Tuesday, February 26, 2002

Na manhã...

parece que tudo é promissor. Em verdade, a percepçao da luz, sugere esperança a cada amanhecer.
Pelo menos assim parece hoje. Ha momentos de sombra até na luz, mesmo com toda essa força que nos impele a agir e nos coloca, em movimentos e atitudes de exito.
Hoje, especialmente hoje, me foi revelado o segredo do efeito do sol de cada dia.
Ha quantos e quantos eu os vivi sem percebe-los de fato. Acostuma-se. acha-se apenas natural.
Diz-se com segurança:- Até amanhã! com a certeza dos que sabem. Como se de fato soubéssemos..
Hoje parece que a vida se renova. Algo especial? Nao sei. Apenas sinto a seiva, chi, como queiram, aqui, depois de parecer que ela teria ido alhures.

Dias e noites de agonia, transitando em umbrais nada faceis de vivenciar, e, de repente, o túnel desaparece e ha apenas essa luz intensa que veio cobrir as partes que lhe pertenciam e eu invoquei sim sua volta em prece.

É bom saber que somos ouvidas. É maravilhoso poder vivenciar o poeta em nós a cantar: luminosa manha..por que tanta luz?

Bah..nao quero saber por que de coisa alguma. A vida pulsa alto e eu espero escorregar nesse deleite, como nos tempos de meninice...
Saudade viva é isso. Matamos o que nos matava por que renascemos plenas! Definiçao perfeita de milagre e renascimento.
Como?

Sei la, sei não...

Monday, February 25, 2002

A medida da mulher

No volteio dos quadris, um segredo mágico se espalha. Ela dança e per si parece um jogo sedutor. Convite inegavel ao profundo dos misterios, no movimento de seu ventre a possessao pela entrega, única, farta, alagada.

Mulheres, todas, quando em contacto com essa força que lhes move, promovem a vida, o retorno das almas nos olhares, a nudez revelada dos que sem saber como, se postam extasiados diante da beleza inenarravel.

Como nao se render a tal poder? por onde ele se extende, nao é dado aos comuns mortais saber, apenas viver, quando possivel, e por instantes, uma viagem magica.

Ali, a morte se rende adormecendo, enfeitiçada pelos volteios simétrios entre rosto, cabelos e braços, a compor a moldura por si so, moduleante, do que quase define uma mulher, sem lhe dar medida.
Polegadas nao as contem, embora ousem ditar seus numeros.
E entre um passo e um amasso, um jorro a mais de vida e viciante liquido enaltecedor...

O jorrar feminino é mais que vida, é a confirmaçao de uma presença que se faz eternizada, fecundante e poderosa.

Não queira ser fisgado pelo seu olhar, pois dessa prisao vital, nao podes escapar. Por isso, os homens, fingem dominar e prover por que nao poder admitir sua real fragilidade diante de tal força avassaladoramente sem limites.

E como negar a vida se ela vem e nos consome? Ali, nao ha repressão ou depressão possiveis. A espada nao vinga embora possa destribuir o sangue e espalha-lo por campos que se tornam inferteis com o tempo.

Os guerreiros tem seus dias contados e ainda lutam e tentam recusar o que os soterra: seu repouso eterno. Nos braços da Deusa, ou mesmo envolvido por ela, na ha guerreiros e por conseguinte extinguem-se as guerras.

E, as vezes, como num dia longo como hoje, passa-se ao largo apenas sentindo-se que a seiva feminina é jorrada em doaçao involuntaria, pra suprir vidas alem mundo talvez e a Deusa me posta e prosta a anunciar em forma de dor sutil, que estamos ainda perdendo espaço entre os mortais e com isso a vida se extingue um pouco mais.

Louvo as mulheres que dançam livres e nao temem por seus ventres envolventes, mesmo tendo que pagar com cancer em suas mamas, o preço de apenas terem tentado ser únicas.

Quisera poder resgatar a todas, amando a todas de tal forma que meu sopro pudesse toca-las uma vez e traze-las inteiras e belas, per si, em sua trajetoria magica e sempre fascinante.

Estala, coraçao de vidro pintado!

Sunday, February 24, 2002

A medida do homem

Sempre fui fascinada pelos espaços. Simplesmente o ato de contemplar o ceu e maravilhar-me com a visao das estrelas, ja é para mim um indicio positivo para nos colocar diante do infinito. E pensar em infinito nos remete, quase sempre, a grandeza, a colosso, a algo que nos transcende, e transcendencia implica em constatar uma medida, uma nota limitante de uma forma ou outra.

Hoje vem o tema de vida e morte. Simbolos por si de finitude e seu reverso. Como se tivessemos incorporados em nossa leitura que a morte é o fim de algo e isso seria a vida. E so de pensar isso, ja nos colocamos numa medida. Temporal. Nao metrificavel, por ignorarmos até quando a vida começa e quando ela acaba.
Dizemos isso, como por dizer, olhando para a evolucao e crescimento de nosso corpo fisico. Embora saibamos, até sem pensar nisso, que nossas ideias e crenças se perpetuam e que nossos filhos e netos, parte de nos, com certeza, dao continuidade ao mundo que aqui se encontra.
Interessante é observar que , por nao sermos testemunhas fisicamente oculares, registramos como sendo uma medida final: morreu acabou!.
Será que é assim mesmo? Minhas memórias vivas dizem que nao. A capacidade de publica-las e compartilhar tudo, registrado e documentado de tantas formas tambem dizem que nao.
No, entanto, custamos a simplesmente remover esse conceito petrificante de finitude, a partir de um ciclo corporal.
Minha alma, eu sei, é imortal. Nao olho apenas para as estrelas, recordo.
Nao abraço, por exemplo, como um jesto de interacao, até social. Me perpetuo. E nao tenho dúvidas, quando passo ao largo de um cenario qualquer, e sinto a presença viva dos que amo, e que ja se foram fisicamente daqui, que tudo é vivo e é real.

Entao, qual seria a medida do homem, senao a que ele cria pra si mesmo e insiste em segurar como real?

Cheguei nua a esse mundo e essa é a minha base mais legitima. Sei que dele partirei tambem nua, e que meu corpo, veiculo contemplavel e apreciado tantas vezes, será uma forma de lembrança- medida viva, do que sou e doei enquanto por aqui naveguei em minha real condicao , nem sempre vista, mas com certeza sentida e imortalizada.

E nao é assim tambem com voce? Claro que sim. Apenas voce nao cogita sobre isso. Pode ser.

No mais, doencas e sintomas, passam despercebidas, se apenas nos detivessemos mais ao principio de nossa criaçao, chegada ao mundo, e saída dele.
O intervalo, que julgamos ser nossa medida de existencia, é outra coisa.
E dessa fala-se muito e praticamente nada. Por que ficamos apenas na periferia, na primeira camada de percepçao, no medo de perder a condicao de existencia, que ainda nos transcende e continua a ser o mais lindo dos mistérios.
Como sei disso?

Eu vi ontem a lua e o ceu, e senti o vento em meus cabelos e no silencio da noite, soube o que real e o que é ilusório Essa força maior que a tudo anima e sustenta, sussura em meus ouvidos e sentidos tudo isso.

Sim, é um privilegio, porque ouso, e sei que viver é para alem dos sonhos. E a morte, pra mim, é uma porta pra infinitas possibilidades que apenas temos medo de olhar de frente.
Por que? Nao damos conta siquer, direito, de absorver toda a magia do que acontece enquanto dizemos estar acordados. Ficamos fazendo coisas demais, sem de fato, apreciar até o ato de faze-las.

Ah, essa dualidade miserável...

Friday, February 22, 2002

Da alquimia e seus derivados...

Um dia desses, assim, desavisadamente, notei o quanto as pessoas avaliam suas relaçoes em funcão do que chamam de química.

Depois de ouvir algumas vezes:- Well, you know, a química, nao é a mesma. Ou, nossa química sempre foi ótima e eu sinto falta disso.
Ou ainda, a química nao rolou legal...


Hoje acordei com esse tema : Em busca da física ou do físico, as pessoas falam em química, e nem sabem do que se trata. Até dizem com frequencia: nao entendo nada de quimica e sempre fui péssimo em física.

Como se usa um termo sem se"saber" do que se trata? Do que falam ou se queixam ou sofrem quando dizem que a química acabou?

E quimica é assim? finita? Sempre soube que quando se encontram, agua e açucar, se diluem perfeitamente, assim como agua e óleo nao se mixturam.
Agora, entre pessoas, ha muitas moleculas envolvidas, milhares talvez, a reger a atraçao ou a repulsao, e vejo que muitas pessoas parecem sofrer por que nao entendem dessa alquimia.E nem querem. Pra elas o que importa é viver o processo, e pronto. E quando acaba a fusão. por que na química ha um momento em que a fusao se completa, e surge outra coisa.E viver essa "outra coisa"é outro momento sim. Os elementos costumam voltar ao seu natural, dependendo da complexidade da mixtura.
Ainda é comum "por a culpa em alguem". O outro tem outra, ou vice-versa, como se um terceiro elemento fosse o dissolvente de um dado encontro.
Vamos chamar esse terceiro elemento de monoxido de carbono, por exemplo. Mas na quimica, sabemos que o carbono serve de elemento ligador entre os outros. E tudo isso é uma nomenclatura pra observador de laboratorio.

Na prática o ser humano tenta descrever o quanto fica "mexido"como ovos numa frigideira, diante da presenca, ou da voz de alguem que lhes detona um processo alem de qualquer narrativa plausivel.
Ha quem goste. Ha quem vive correndo atras de, ha quem sente horror, ha quem sente, registra e apaga. O segredo da alquimia, ninguem parece querer dominar.
Viver ou experienciar, se confunde muitas vezes com uma chave pra perder a identidade ou entrar no diapasao da ausencia de fronteiras, e se sentir super, poderoso: uma expansao capaz de gerar toda a euforia possivel, deixando a todos a sensacao de estar nas nuvens,caminhando no ceu e vendo tudo cor de rosa.

A verdade é que essa alquimia tambem traz efeitos colaterais negativos: baixa de neurotransmissores, queda de entusiasmo, falta de desejo manifesto e até depedencia "química"daquela substancia ou quinto elemento.

Dizem que o chocolate tem o poder de gerar o mesmo efeito. Mas efetivamente parece, ninguem gosta de substituir o chocolate, concreto, visivel, adquirivel em qualquer loja, por aquele aparente único ser que só por existir e passar por perto, inspira as mais loucas voltas sanguineas pelo coraçao, no mínimo.

E quem sao esses seres portadores desse carbono 27, capaz de transmutar um ser, uma alma, um corpo, uma identidade.
Esses carismáticos ambulantes, que desavisadamente, e é sempre assim, trazem um veneno proprio no olhar, no toque das maos, no timbre da voz, no suspiro até. E nem sabem talvez, desse poder mágico.

Esses sao os alquimistas. Os colocados no mundo pra alterar o curso de muitas vidas. E o fazem por fazer. O que tocam vira ouro- metáfora medieval de transformaçao do pó no elemento quimico mais elevado.

Penso que todos somos alquimistas. Alguns conscientes disso, outros, nem passam por perto. Esses os mais poderosos, por que cobertos pela inocencia que os fazem ainda mais deliraveis e desejaveis de todo modo.
Quem sao essas almas? Quem consegue identificar ja tem um trunfo nas mãos.

E nao é pra confundir com os sedutores. Os que tentam, as vezes com sucesso, falsificar uma fórmula de luminosidade e elevacao de nivel na vida de alguem.

Os alquimistas nunca passam despercebidos. Nunca sao esquecidos, e nao tem o poder de desfazer a quimica. Apenas as detonam.
O resto fica por conta do aprendiz de química: se tornar ou nao um alquimista é uma experiencia pessoal única. E uma vez que se é tocado por um, pode-se passar a saber a produzir quimica, se a vida vale e se voce quer de fato levar adiante essa cantiga.

Pra tanto é preciso se gostar em primeiro lugar e espalhar os ares de alta-estima em cada momento e gesto. Se seu tom for autentico, nao se preocupe, sua ocupaçao vai ser com certeza, orquestrar esse laboratorio que voce, talvez, nem sabe que tem.

O divino em ti fala mais alto, e esse é inegavel quando apenas se permite ser.
Nao ha o que fazer, basta SER HUMANO, com maiúscula. E ponto.

Thursday, February 21, 2002

Carpintaria

Ainda dentro do tema da arte. Da arte de viver, a arte de navegar nas ofertas da natureza. Da origem de tudo: o artesão.
Olho para os objetos de madeira. Vejo a vida neles.Diante de mim, uma vela esculpida em madeira, inscriçao de um símbolo chines significando felicidade. Os objetos que guardam a viagem de uma alma, a devoçao de quem ali depositou seu sopro de criador, são para mim inéstimáveis.
Sou assim com as pessoas. Aprecio, admiro, valorizo, a partir desse pequeno detalhe: integridade, inteireza no fazer, no expressar.

As vezes, me sinto como uma guardiã de Deus, atenta a cada gesto e cada intençao, e até sinto quando atraves de meu olhar contemplativo e ao mesmo tempo escrutinador, um Ser maior, avalia a grande e maior obra.

Isso às vezes me perturba, ora não, quando sei que é esse meu verdadeiro ofício. Atraves do serviço, vou tecendo lentamente uma obra invisivel, imperceptivel aos olhos de quem nao sabe dessa carpintaria oculta. Talvez os artistas que modelam o barro, a madeira, e poem nele o sopro da vida.

E ai sigo, pelos dias e cantos, nem sempre cantando, mas compondo sempre, uma melodia silenciosa que vez por outra ouso assoviar. Outro requinte que muito poucos conhecem e apreciam.
A meu respeito, esse de auto-importancia, ninguem sabe: estao quase sempre ocupados demais em narrar seu proprios fatos e feitos e, com muita certeza, esquecem de quem os ouve. Ali, simplesmente atenta. Presença total: dom maior me dado por Deus. Nao valorizado no mercado persa, de valores, ou de qualquer outro comercio. Sim por que esse, nao estando à venda e nao tendo etiqueta de preço, nao se torna visivel para os consumidores contumazes.
Afinal, requer muito requinte saber ver e ouvir um violino: da arte de esculpir a madeira, à arte de faze-lo vibrar tons intensos e suaves.
Quantos em verdade, sabem da carpintaria de uma alma, quando siquer sabem apreciar uma árvore?

Por isso essa reaçao alergica, da alma, em ressonancia com seu proprio polen, sem ventos para fecundar outras pairagens....

Sim, sou carpinteira. Esculpo espiritos e almas, e suas personalidades, nem notam que passam por esse processo. Nao é de seu linguajar, nem de seu alcance.
Quem vive a forma, nao lhes vendo a essencia, nao pode com certeza, notar que essa nao tem valor se nao expressa o que lhe inspira e compõe.

Por isso esse mundo farto de descartaveis, sem nobreza, sem tempo de usufruto, sem hedonismo em cada intervalo de viver.
O fazer por fazer, é apenas uma distraçao de egos inflados e insaciáveis. E esses, abundam à cata desesperada de reconhecimento externo.
Sem alcance. Por que a verdade está embutida no nó da madeira que compoe o objeto que nem siquer sao capazes de ver, siquer vivenciar.

Para tanto, é necessario ir alem da forma, e alcançar o criador, presente no carpinteiro e sua obra em branco e matizes.

Wednesday, February 20, 2002

Descompasso


No compasso do samba desfaço o cansaço...Joana debaixo do braço, carregadinha de amor...Vou que vou...Sim. Os versos não são meus, mas ajudam e muito a levar a vida com toda essa aritimia que ocorre vez por outra.

Estou com cócegas na alma. Na dúvida, tomei anti-alérgico. Pressentindo ares e ventos, não necessariamente brandos, desses que nos fazem sentir que a vida vai mudar de ritimo. Não estou no mood do viajante que faz a mala, e parte. Partir ficou anti-tésico. E nisso nao sou academica.Ha momentos em que parece que acordamos de porre e viemos da boemia, e tudo é um tempo dentro de outro tempo, desdobrando-se e nos levando por ai.
Bem me quer, mal me quer....

O que é isso? compasso de espera. Espera do banco, da resposta da telefonista, da vaga no aviao, do saldo do banco via internet, do telefonema mais tarde e tarde já é.
Suspira-se e suspira-se. O dia é lindo e azul. Mas no descompasso parece que nosso ritimo é diferente de todos os outros. Bebedeira de quem realmente está sob efeito de anti-histaminico. Que nome engraçado esse!
Nao sou anfetaminica, sou histaminica. Depois da tentativa do desencouraçamento, claro, a alergia. A alma coça e com ela a pele- seu involucro mais proximo e transparente.

E como hoje é dia de resoluçoes, ha que parar a reaçao da alma por um instante, e com isso, essa bebedeira estranha, esse estar quase, esse sonambulismo engraçado e furtacor.

Ainda bem que nao me chamo Raimundo e nao vivo em Niterói. Vamos ver o que vem por ai...

Voce espera?

Acho bom.

Tuesday, February 19, 2002

A arte de ser humano

Muitas vezes ouço as pessoas dizerem: - Puxa, errar é humano eu sou apenas um ser humano!. Isso se referindo ao fato de ter descoberto que cometeu um equívoco, ou um erro- o que parece uma coisa grave, ao olhar de muitos.

Eu sempre me surpreendo com essa afirmativa. Não sei por que.Nesses dias de ausencia meditei sobre o assunto, entre outros e descobri que "ser humano"- que pra mim representa uma arte cultivada com esmero e carinho, pra muitos, incontáveis, até, é ainda um experiencia nova, muito recente.Quase como assistir a criança pegar a colher pela primeira vez, sentada numa cadeira alta, sendo inciada àquela complexa experiencia de comer com a propria mao. Entre acertar a colher no prato, pegar o alimento e por na boca, ha uma infinidade de outras logisticas, que a criança está por assim dizer, descobrindo.
Isso é um caso.
O outro, é constatar que estamos repetindo o mesmo repertório de equivocos, e que na verdade nao estamos desenvolvendo nenhuma "melhora' por que aparentemente estamos gostando de repetir o erro.
Ha ai o que se chama de "ganho secundário". Afinal, sujar a cozinha, botar a mamae, enfurecida ou bufando, por que todo o prato foi para o teto ou para o chao, parece um brinquedo mais divertido do que realmente comer o prato de mingau.
Na complexidade de todos os resultados possiveis de uma só experiencia, reside a arte de se ser humano. Eu acho.
E isso me lembra novamente os "four agreements". Como que fosse necessario nos incluir na experiencia pessoal de viver, nao so os outros, e fossemos testados em nosso nivel mais intimo de integridade: o quao inteiro estamos naquilo que fazemos, e o quanto dessa inteireza realmente transmitimos para os demais seres.
Percebo que existe um certo prazer em querer enganar o outro com essa possivel escapada de inteireza nos nossos desempenhos.
E de que adianta eu me perguntar pra que? A maioria das pessoas, ainda dizem que estao comendo, quando na verdade o que querem mesmo é jogar o mingau na cara do outro.
Pode-se dizer que é por que nao é permitido jogar o prato no chao.E, ao que parece, tudo que é escondido parece ter um outro gostinho...E é a isso que se chama:- errar é humano?
Conversa de Adao e Eva:- um poe a culpa no outro, diante do olhar onipresente de Deus, e ninguem assume por conta e risco o proprio desejo. E nisso se fundou o proibido movimento e se fundou a desintegraçao, legitimando que é humano praticar esses deslizes.

Bahhh!

Ninguem ousa saber o quanto está perdendo de fato so por se manter a inteireza. Ninguem ousa praticar a arte maior de ser humano, um espirito em experiencia na natureza e seus deleites e desafios. Nao ha o que errar ou o que acertar diante da franqueza e da sinceridade, por que nos colocamos no mesmo lugar, vivenciando a mesma coisa, sem precisar provar isso ou aquilo, sem competir na imagem ou na furtiva postura de "nao sei do que se trata".

O "Eden"é aqui. E dizer que se provou da árvore do conhecimento, pode abrir outro papo com Deus, que deixa de ser um "espiao inveterado"pra ser um amigo disponivel a compartilhar o que significa aprender a escolher.
Afinal, conhecer implica em aprender a escolher. Negar isso nos tira do Eden, nos poe no fogo do inferno, por que pleno do medo de julgamento, e nos inicia no julgamento e acusacao do outro, sempre.
E isso nao acaba, até que queiramos abrir mao dessa tolice, e escolhamos a inocencia: so sei que nada sei.
E é preciso experienciar a morte ou a proximidade dela pra de novo descobrir-se isso.
Que viagem curta e tonta se tornou essa aqui pelas paragens do "ser humano"!

Sem saber o que faz e cheio de medo de declarar isso, por que ainda debaixo do sintagma-sintoma, de que é filho de Adao e Eva, e nao filho de Deus/a.

Acorda mulher!! Honra sua realeza!!!

Wednesday, February 13, 2002

Encouraçado- II

ufa! enfim a cançao pode sair livre de meu peito.

Encouraçado,

Nos meus agasalhos, nessa vastíssima avenida, nessa lentissima espreguiçadeira, no seio dessa tarde confortável

Eu, bandoleiro, eu o proscrito, eu o fora da lei

E o que fazer?

Eu quero, eu quero, eu quero..

Ninguem pode calar dentro em mim,

essa chama que nao vai passar

É mais forte que eu. Eu nao quero dela me afastar..
Eu nao sei explicar como foi e nem como ela veio.

Eu so digo o que penso, so faço o que gosto e aquilo que creio

E se alguem nao quiser entender e falar por que fale

Eu nao vou me importar com a maldade de quem nada vale.
E se alguem se interessa saber, sou bem feliz assim
Muito mais do que quem ja falou ou vai falar de mim.

So me resta seguir rumo ao futuro, certa de meu coraçao mais puro..


Sim, custou alguns dias e muita turbulencia, publicar esse texto...A vida é maior do que tudo e esse blog tem sido um blue-print pra grandes mudanças. Ainda bem.

Comecei agradecendo as amigas da Lista Artemis, lista da qual me despedi, por ter compreendido que fechei um ciclo de participacao.
Nao posso mais discutir por discutir, nao posso mais transitar em espaços de competicao e futilidades. A coragem que queima em meu peito clama por aquilo que ela representa: a fala do cor...

Descobrir que isso requer ousadia é algo. Sustentar esse espaço em público é outra coisa. Honrar o que a alma pede torna-se um desafio maior por que implica em passar o ego pelo buraco da agulha e isso muitas vezes é confundido com tantas outras coisas.

Sou grata a todas as Artemisias pela liberdade de voo que me proporcionaram até por nao me lerem e verem.
E especial graças à Virgem Rosa, pela cumplicidade silenciosa de alma e trajetoria em vida.

E la nave va....

Friday, February 08, 2002

Encouraçado

faz dois dias tento postar esse blog e ele nao sai. O tema é virtualmente bloqueado.
Vou ter que tentar outra vez. Por enquanto fica registrado que falar de couraça nao sai nem em forma de cançao.

Thursday, February 07, 2002

Tratado do vão combate


Ha alguns anos li esse livro de Margherite Yourcenar. Na época fiquei mais entusiasmada ainda por saber que ela havia escrito aquela obra prima aos 20 anos.E me perguntei então: como alguem pode ter maturidade e competencia pra escrever tal "coisa"com tão pouca idade? Foi o suficiente pra me deixar de molho na minha auto-estima ou "sonho"de um dia ser capaz de escrever.

Hoje, mais tranquila sobre, doesn't matter what they think, vejo que ha um outro combate. Totalmemente terrivel ,que é esse que se passa dentro de nós, numa profunda dor e interno diálogo sobre nossa competencia, mesmo que não comparando com alguem.
Penso que essa "doença"chamada depressao decorre muito desse combate interno entre o Eu ideal e o Eu real, e evidentemente, a dose de orgulho necessaria pra fazer esse gap vivo.

E como todo combate, simplesmente vão.

Se me permito ser humilde o suficiente pra aceitar meus méritos e/limites de agora ou de ontem, com certeza vou me ver com generosa compaixao, o suficiente pra me abarcar com tudo que representa minhas experiencias. Sejam elas reconhecidas com aplauso ou sucesso, vindo dos outros ou de mim mesma, ou não.

E como sucesso e fracasso passa pelo crivo de um julgamento qualquer, uma avaliaçao qualquer tambem, corre-se o risco de se impor um padrao de performace, de aparencia, um script desempenhado dentro das aspas de alguem.Especialmente esse juiz que introjetamos a partir do momento em que confundimos o compartilhar a energia do amor, com o ato de sermos aceitos.
Uma coisa nada tem a ver com outra. Amor é uma qualidade vibracional que so pode ser compartilhada, nada mais.
Qualquer fator ou coisa fora disso, é tentativa de se ser amado ou de "conquistar"alguem e isso é fruto de competicao de juizos e penetracao nas "frames"alheias.
Eu lamento pelo equivoco passado e repassado de geracao a geracao, que ainda sustenta a grande mentira de amor, que é preciso tentar ser isso ou aquilo pra se ser merecedor de amor.

Eu sonhei um dia escrever um livro chamdo Mentiras de Amor.Ainda está na agenda, a despeito dos tremores de muitos temerosos de que eu estaria publicando minhas memórias.

Big Deal!

Memorias sao apenas resultados dos frutos de nossas trabalhadas mentes, nao necessariamente o real, até por que esse é inenarravel por que passivel de tremendas interpretoses.

E quem foi que disse que quem está em combate, cavando , acredita que está numa roubada? roubada de si mesmo, inutil e infrutifera tentativa de marcar ponto diante do olhar de alguem. Especialmente esse "introjetado"dentro de proprio cerebro e que fica la como um espiao de uma agencia secreta qualquer: a sua.

E nao adianta blasfemar. Todos nos temos essa agencia internalizada por que vivemos numa sociedade movida a competicao. Regada a medalhas e outros premios, até citados nos comercias de todas as TVs. Como se isso fosse de fato real e fundamental.
Ah, vc acredita que sim? Ta dentro da moda? completamente engolido pela curva de Gauss?

Ruim pra voce, que vai ter que ficar lutando pra nao deixar a peteca cair, pra nao perder a pose, nao desgastar a imagem, e tudo mais que isso envolve.

Tsc! Tsc! Tsc!


Sai dessa cara, antes que seja tarde, muito tarde e voce descubra que a vida ta passando ou ja foi e voce ficou ai esperando que te reconhecessem, como pelo o máximo...Isso sem considerar que voce mesmo nao se conhece. Sim por que se fosse fato, nao estaria esperando por reconhecimento dos outros.

Expectativa nao alimenta ninguem, só ansiedade. E com ela, os autos e baixos, da busca de uma estima que nao estara em lugar algum. E nao tem prozac que de jeito nisso. Apenas embaça um pouco mais sua vidraça e aliena um pouco mais sua alma.

Wednesday, February 06, 2002

Reverencia

Olho tudo com reverencia. O sagrado que mora em mim, contempla do mesmo modo, tudo la fora. Com atençao e respeito. Ha quem confunda reverencia com protocolo, tratamento destinado aos padres ( por que sacerdotes), perdendo com isso, a rara e gostosa oportunidade de usufruir.

Sem reverencia, a vida passa mal. Tudo fica menor e vulgar, e tudo deixa de ter o detalhe maior da beleza e sua honrosa presença.
Como viver sem saudar o que é belo? Sem ser grato por isso? como passar a vida dentro apenas da barbarie? nos tempos modernos traduzida por essa infame conclusao de que o dinheiro cobre tudo e compra tudo.
Absolutamente não. Bom gosto, finess de sprit, são alguns dos dons venusianos doados secretamente aos hedonistas, aos que conhecem e praticam o ato de reverenciar cada pedaço de vivencia, cada prato de manjar, cada suspiro, cada canto onde pousamos o olhar ou as mãos.

Os que vampirisam "vivem"de possuir, sem nada saber sobre reverencia. Sua impaciencia em devorar, por que longe da possibilidade até de se verem como sagrado e único, lhes tira a auto-estima, e quem não ha tem, nao a ve do lado de fora.

E nessa dança sem melodia, os desastres e o caos, fazem seus goals. Ë a massiva e invasora presença da ignorancia e todos os seus filhos inconsequentes.

E como se passar a importancia da reverencia? Ha quem confuda isso com romance. Ha quem a identifique com poder. Status de muitos superiores.

Nada disso. Basta saber e saber mesmo que toda relaçao é sagrada. Contem em si o segredo da interaçao. Como por exemplo o dedilhar no teclado e a íntima relaçao com meus pensamentos e sentimentos nesse momento. Ha magia aqui.
E ha tambem um profundo respeito sobre como a Força que me compõe e guia, se manifesta atraves desse gesto aparentemente simples.
E nisso entra a relaçao entre meu corpo e o assento onde posto minha coluna e pernas comodamente cruzadas.
Todo esse conjunto, é por si só, digno de nota.
Sem falar no silencio que compoe meu momento de criar e de expressar.
Cada peça, cada colocaçao, cada detalhe que compõe esse momento único, fica pra sempre e isso é um sagrado segredo.

Tudo que somos e praticamos é sagrado. E por si só, merece toda reverencia possivel.

Imagine a obra do amor. O produzir uma nova vida. O penetrar de um corpo. A viagem de um olhar em outro olhar entregue. O nascer de um filhote. A sagrada manifestaçao da luz a cada amanhecer.

A maravilhosa e inenarravel sensaçao de beber um copo de água geladinha, quando se tem sede, e se aprecia aquela relaçao intima.

Diante disso tudo, como alguns insistem em ficar no espaço do abuso, da ausencia de contemplar e agradecer pela vida e suas graças?

Por que muitos nao querem e nao se dão ao luxo raro e especial, nao à venda nos mercados, de ser um agente de reverencia?

O lugar da alma, seu templo corporal é especial. E o corpo, por si so e por isso mesmo, é tambem sagrado e lindo.
Como voce ousa negar isso, se destruindo aos poucos, com habitos que revela puramente que voce nao se ama, e se pune lentamente por falta de carinho e reverencia por si so?

Eu nao posso. A relaçao comigo- um ser sagrado que passa pela encarnaçao nesse lindo planeta- é algo que merece todo meu carinho e toda minha atençao.
E quando isso nao ocorre, sei que me descuidei, e descuido tem limite de tempo em meus atos e consciencia.
Não estou à venda. E o dinheiro nào pode comprar o que nao tem preço.
Meu tempo de viver, de estar em paz e profunda comunhao com o criador e sua obra.
Afinal, somos sócios. E eu levo muito a sério essa relaçao.

E voce?

Tuesday, February 05, 2002

DIAS DE SILENCIO


Algumas vezes,nao sei por que, penso em ficar em silencio. Aqui, no blog, lugar onde reflito o que se passa em meu mais recondito espaço pessoal, minha nudez, declaro meu desejo de silencio. Como se fosse possivel atraves dele, e so atraves dele, desvendar alguns misterios que me ocorrem. Dos sonhos, ao dormir, das invasões de presenças invisiveis em meu quarto, da vontade de poder desligar um botão e fazer com que toda a barulhenta apresentação no Superbowl e seus torcedores, parasse por uns minutos pelo menos.

Sempre detestei barulho. Da giria ao real cotidiano substantivo. Ele me fere, me tira o contacto com o sublime, impede a audição da natureza, e me distoa do contexto, sempre.

E ha barulhos até nas conversas pessoais...Tem gente que é ruidosa quando fala, quando tenta falar, por que conversar é outra coisa. Uma arte que muito poucos sabem cultivar. Requer sim, pausa, silencio, contemplação, escuta interna e externa e até escolha e edição do que falamos ou queremos dizer.
Noto que isso anda sumindo. Desde que o Rock and roll com suas guitarras ruidosas apareceram e todos os seus adeptos consequentes.

Sei não...as vezes, o outro não está mesmo no mercado, nos bares, nos clubes, nas igrejas, nos encontros que não sao encontros, são arranjos de exibição de feitos e de máscaras.
E eu continuo nao gostando. Me cansa....

E agora dei pra ter que me recuperar desse cansaço moderno...Não me sentindo nutrida por que nao ha troca real, fico naturalmente drenada.

E depois, ai que saudade do meu templo!

Friday, February 01, 2002

Interpretoses

Ha algum tempo, quando cursei o Colégio Freudiano no Rio de Janeiro, estudando Lacan, descobri a interpretose.

Lembro bem que na época, a descoberta ficou guardada em silencio, e eu parecia estar fascinada com a multiplicidades de significados que se podia obter de um discurso qualquer.
Nao levei a coisa tão avante a ponto de ter me tornado uma Lacaniana, por exemplo.
Hoje, anos depois, me deparo com o conceito de interpretose flutuando em minha mente outra vez.
Essa fantastica e prodigiosa fonte de infinitas criaçoes interpretativas. Começa-se na infancia quando começamos a falar e nos ensinam a dar nome às coisas, às pessoas, e o que é certo e errado e ai: pronto! O setup está feito. Dai pra frente nos tornamos ambulantes cerebros pensantes e nomeadores de tudo. E haja significado. O cientifico, o artitistico, o low-profile, o academico, o jornalístico, o politico, o religioso, o meta-físico, o fisico, o sexual, o extraterrestre, o mirabolante, o louco, o doente, todo o dicionario de todas as linguas.

Assim seguimos acreditando, por que parece, precisamos acreditar em alguma coisa, que existem os certos, e os errados, o que se combina e o que se difere, o que "rola afim' e o que não rola.
E pensar que ja nascemos dentro de um contexto e somos intimados a produzir nosso texto, nosso perfil, nosso "resumee"que será devidamente avaliado, apreciado, julgado, aceito, interpretado como bom ou ruim, de acordo com os secretos códigos de boots, de cada um.
Cada sistema, tem seu padrao proprio de crenças e codificaçao.
Se vc nasceu mulher, sul americana, branca, classe média, baixa, gordinha, etc, vc vai para um determinado arquivo de interpretose.E esse arquivo parece ser reavaliado de acordo com o script pre-programado pra voce> Ainda nao casou até os 30 anos? Ainda nao teve filhos até os 32? Nao cursou uma faculdade? Nao aprendeu outro idioma? Nao tem casa propria? Mas como? Voce precisa se enquadrar no contexto pra seu texto ter sentido e avaliaçao correta. E entao... corre o risco de querer mudar todos esses selos que a classificou ali, acreditando que está melhorando de vida.
Mudar de arquivo, passa a ser um projeto viavel de mudar de vida? Para muitos,é claro que sim. E bota muitos nisso.
O que nao se ve é que a VIDA é maior que tudo isso e abarca todos os arquivos mentais com comprovantes documentais, pra se provar que é real e que existe.
Matrix? pode ser. O certo e claro pra mim, é que eu nao sou o arquivo onde me colocaram ja antes de nascer e que fui sendo impingida a compor por que tenho uma biografia, afinal é assim que todos parecem ver uns aos outros. Se voce vai cumprir ou não o que lhe predisseram, vai decidir seu nível de sucesso, de auto-aceitaçao, de sentido histórico, de nome, descendencia etc.
Aghh!
Ninguem tem o registro de minhas dores, de meus desejos, de meus sonhos. Fica apenas uma ranhura ridicula de onde passei, mas a vivencia, essa está mesmo guardada em meus tecidos, e ninguem até hoje se interessou em ler e pesquisar o que ali está.
Nao é moda, nao faz parte do anseio de conhecer de fato.
Ainda nos contentamos em ler os curriculum vitae- pomposo isso- como se de fato fosse nossa biografia.
Rídiculo. E ainda ousamos dizer que conhecemos alguem. So por que fui apresentada a uma máscara, e uma personagem, nao significa absolutamente que conheço o ator que desempenha aquele papel ou tais scripts.
Ficamos todos ao nivel superficial de interpretoses, trocando figurinhas e fotografias como se isso fosse o documento cabal da viagem e do contacto.
Enquanto isso, o contacto real, passou por onde?
Esse o que me interessa. Esse o objeto de meu desejo maior, esse o link que de fato 'scaneio"sempre.
O que está alem da aparencia, o que perpassa o vibrar da vida em si mesma, o que voce pensa que pode ocultar de voce mesma e de todos, o que nao tem juizo, o que nao está escrito, mas que se desenha quando possivel. Isso que imprime o milagre cotidiano entre o ar que inspiro e a nutriçao de meu coraçao.

Sem intérpretes. Apenas a vida correndo seu canal perfeito de expressao, onde quer que se encontre.
E isso é o que me faz vibrar a qualquer coisa.
E voce? ainda acreditando no que analisas e deduz do que pensas que ve?
Desconfie do que te ensinam a saber. Atras dessa porta ha um infinito e fantástico mundo disponivel, apenas para os que nao se atem aos rótulos e bulas.
E quem foi que disse que vc nao tem sete sentidos? Vc ja experimentou? Nao?

Que pena!